Márcia Atik

Escrever sobre transexualidade apesar de urgente, pelo pouco material disponível para aprender e conhecer a respeito, é difícil e complicado pelo risco de se ferir suscetibilidades e, de alguma maneira, ser injusta num assunto carregado de paixões, preconceitos, envolto em proibições e muitas outras emoções.

Mas me coloco à prova e pretendo nesse breve relato, muito mais do que escrever teorias e questões concretas, tentar passar o que aprendi convivendo com algumas dessas pessoas, umas mais resolvidas outras mais jovens, desesperançadas e com histórias de vidas permeadas de obstáculos.

Nesse sentido pergunto? Não terão os heteros, homos também conflitos com sua sexualidade? Aí está a questão!

Sem dúvida que sim, mas não são essas as questões dos transexuais, pois sua dor maior está mais atrelada aos aspectos biossociais que aos sexuais, pois é o aprisionamento da alma num corpo não correspondente.

O mais importante é saber definir, entre tantas possibilidades sexuais, que o transtorno do transexual é de identidade e, nesse sentido, a dor da alma não é patologia e sim a causa. Pois o transexual muito mais que desejo sexual por outra pessoa do mesmo sexo, se sente com a alma do outro sexo. Daí as necessidades e os prazeres de viver situações cotidianas e prosaicas não de uma maneira caricata, mas como realização pessoal.

No diagnóstico do transexual, observa-se sempre a disforia de gênero, isto é, a inadequação em relação ao seu corpo. Contudo, muitos podem alegar que qualquer indivíduo, em algum momento de sua vida, pode se sentir assim e isso deixa de ser relevante.

Mas no caso do transexual há um detalhe: muito mais que inadequação ao seu corpo ele sente um não pertencimento do mesmo, pois ele não deseja ser de outro sexo, ele o é.

A isso damos o nome de identidade de gênero. Nesse caso vale ressaltar, para que se entenda do que falo, existem apenas dois gêneros - macho e fêmea, feminino ou masculino.

É verdade que em se tratando de orientação sexual podemos ter, conhecer e sentir várias possibilidades. Ronaldo Pamplona em seu livro destaca onze sexos, mas ao transexual a identidade sexual é constante, persistente e vital e evolui na medida em que o indivíduo se permite assumir sua verdadeira identidade sexual, que vai desde a maneira de se vestir adequadamente ao gênero da sua alma, dando seqüência a um tratamento hormonal e culminando com a cirurgia de redesignação sexual.

E quando esse caminho não ocorre por conta de inúmeros imprevistos, fica o sujeito aprisionado em uma dor muito significativa e que se não for capaz de buscar ajuda pode acabar de maneira trágica ou com uma vida muito insatisfatória e prejudicada.

Por ser um distúrbio de identidade, no transexual consta uma ausência de satisfação sexual e a raridade de contatos sexuais, sejam de cunho hetero ou homo, por conta da inadequação física ao seu desejo são comuns.

Quando falamos em tratar o transexual, nos vemos diante de duas opções: adequar a esfera emocional ao corpo, que eu acho arbitrária e cruel, ou numa terapia também de apoio acompanhando o indivíduo para se entender e conhecer e ir adequando seu corpo à esfera emocional de uma maneira séria levando em conta todo seu potencial humano, intelectual e social percorrendo o caminho até a possibilidade cirúrgica.

Mas tem um aspecto de suma importância: além de se oferecer um bom tratamento deve-se atentar à família de origem dessa pessoa, que geralmente não tem informações e precisa ser orientada para que a busca do transexual ultrapasse os limites do pessoal, sexual e afetivo até o social, para sua completude e integridade.

Psicóloga clínica, conferencista, com especialização em Sexualidade, Terapia de Família e Casal, Transtornos Alimentares e Doenças Psicossomáticas, Márcia Atik tem vasta experiência na área, seja atuando em consultório, coordenando grupos, ministrando palestras em escolas, empresas, associações, sindicatos, prefeituras e demais organizações. É membro do Centro de Estudos e Pesquisas do Comportamento e Sexualidade (CEPCOS).
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