Márcia Atik

Ligado à sexualidade exacerbada, incomum, talvez até patológico, fazendo coro com a grande culpa da humanidade em relação ao pecado capital. Mas que acabou contaminando as vivências saudáveis e preciosas do nosso desenvolvimento, como o exercício da sexualidade livre e responsável pela pecha do exagero, do proibido e do pecado. Pois, na verdade, a busca do prazer, em qualquer instância, está muito mais ligada à sobrevivência da psiché e ao deus da vida e da alegria que é Eros.

Por definição de dicionário, a luxúria é libertinagem, lascívia, sensualidade. Entendemos a luxúria como uma exuberância dos sentidos, da sexualidade, uma embriaguez do corpo, da alma e das sensações.

Pecar por luxúria seria ser possuído pelo desejo desmedido de obter a magnificência dos sentidos e da sensualidade. Mas até que ponto esse excesso compromete socialmente?

Cair nessa tentação significa ser dominado pelo desejo de experimentar, ao máximo, a sensualidade e exuberância dos sentidos. Desfrutar do sexo e do prazer é, sem dúvida, altamente positivo, na medida em que Eros - ligado à sexualidade - é também deus do prazer e do encontro.

Se imaginarmos que, para vivenciar a luxúria precisamos ter disponibilidade para uma orgia íntima, uma relação com nossos desejos e sensações, percebemos que, este pecado capital (se é que é pecado ainda nesse ponto de vista, quando vivenciado na integração e encontro com outra pessoa) potencializa a nossa  harmonia com  os desejos e vontades mais íntimos de nosso ser.

Mas qual a necessidade de se falar disso, a não ser um ato de rebeldia que põe em cheque leituras e interpretações rígidas do ´excesso de bom´ como disse Santo Agostinho sobre os pecados capitais?

Eu diria que é para fazer um chamado especial aos homens e mulheres deste século que, na condição de pessoas estressadas e apressadas com as tarefas do cotidiano não vivem a liberdade.

Para aumentar esse grau de insatisfação dominante, haja vista a crescente ocorrência de depressões e síndromes psíquicas, parece que esse mundo luxuriante está cada vez mais distante de nós, seja nos apelos publicitários ou televisivos que, destarte trazerem para dentro de nossas casas as imagens desse mundo, reforçam intimamente o quanto estamos distantes deles.

Isso se dá pela voz recorrente de que o prazer é colorido como nas imagens fulgurantes de estrelas inatingíveis. Mas, na verdade, o segredo é o mais simples possível: a realização está dentro de cada um, na disponibilidade de crer naquilo que se deseja e na capacidade de torná-lo realidade.

Hoje se idealiza o prazer numa viagem sensacional, numa festa imperdível ou num corpo escultural. Porém, a luxúria não combina com falta de tempo e avidez por resultados.

Poucos de nós se permitem viver um orgasmo provocado por uma sensação corriqueira, como a emoção de assistir a um filme, deliciar-se com um bom prato, com os cheiros da natureza e até mesmo com o sexo rotineiro de uma vida feliz.

É preciso estabelecer até que ponto é saudável desfrutar de sabores, aromas e o amor com liberdade, sem compulsões. Por outro lado, a negação dessa força prazerosa restringe a expressão mais íntima, empobrecendo o cotidiano.

Além da expressão da luxúria no sentido sexual, que é o modo mais recorrente, ao se pensar em luxúria reforço a possibilidade de resgatar o prazer nas suas formas mais diversas. Pintar, cantar e dançar são atividades que despertam talentos, dons criativos e refinam os sentidos.

Parafraseando Paulo Coelho, “...mantenha a alma sensível e o corpo animal, numa unidade que não possam separar-se. Esse é o equilíbrio entre o bem e o mal, o pecado e a sacralidade”.

Psicóloga clínica, conferencista, com especialização em Sexualidade, Terapia de Família e Casal, Transtornos Alimentares e Doenças Psicossomáticas, Márcia Atik tem vasta experiência na área, seja atuando em consultório, coordenando grupos, ministrando palestras em escolas, empresas, associações, sindicatos, prefeituras e demais organizações. É membro do Centro de Estudos e Pesquisas do Comportamento e Sexualidade (CEPCOS).
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