Perdoar, será que consigo?
Por Regina Racco
A questão é séria... Quem me pergunta é uma leitora que sofreu uma traição. Foi traída pelo marido, pai de seus dois filhos adolescentes. Dezoito anos de casados. Um dia, a constatação de que suas suspeitas, que já a vinham assombrando há um tempo, realmente tinham fundamento. Colocado na parede, ele não negou. Assumiu que estava envolvido com outra mulher já há oito meses. - Por que não contou?! Afinal tinham um bom casamento, uma relação de amor e parceria. Por quê?
Minha leitora se fez todas as perguntas que fazemos nesse momento e doeu muito. Doeu saber que, na verdade, não conhecia aquele estranho que dormiu ao seu lado durante dezoito anos... Sei o que passou, triste, mas corriqueira situação. Assim acontece com muitos casais, infelizmente. Sei de sua dor e das noites sem dormir, procurando motivos, tentando descobrir se errou, onde errou. Tanto carinho, atenção, cumplicidade... Nesse momento, alternam-se raiva, tristeza e culpa. Tentamos procurar em nós algum erro que possa ter feito com que desmoronasse nosso mundo.
Depois, o nada, o arrastar de dias sem motivos para sorrir, depressão. Um dia, uma leve tentativa de voltar a viver... um aniversário, um bebê que nasce na família, notícias de alguém distante, o dia-a-dia dos filhos e a necessidade de continuar vivendo. Estabelece-se uma certa paz. Alternam-se dias de lágrimas com outros de riso. É o tempo passando e nos ensinando a viver. Já vamos ao shopping, saímos com amigas, descortina-se o novo. O que não é comum é o que está vivendo a minha leitora agora. Ele que voltar. Está arrependido, confessa que errou e quer sua família de volta.
Minha leitora relata que vê-lo ali, à sua frente, abatido e envergonhado, pegou-a desprevenida. Ele, sempre seguro de si, estava ali, exposto, pedindo humildemente perdão. Imagino seu drama. Sim. Drama. Porque ela passou por todas as etapas de sofrimento até chegar a um princípio de nova vida. Foram seis meses de separação. De um certo modo, ela superou - e com louvor - a difícil provação pela qual passou. Mas me confessa, emocionada, que ainda o ama, está dividida, não sabe se o quer de volta. Medo de sofrer tudo novamente, medo de descobrir que, na verdade, está melhor assim, não tem certeza se consegue realmente perdoá-lo.
Perdoar, sim. Perdoá-lo, porque o perdão é Divino e faz bem ao coração de quem perdoa. Aceitá-lo novamente? Se há amor, sim, mas com coração e mente realmente abertos, disposta a viver uma vida nova, não refazer a antiga. Conversar muito. Ele tem que estar ciente de que terá de reconquistá-la. Ela deverá ver o homem que chega agora em sua vida como um novo homem. Dessa forma, esse novo relacionamento poderá, sim, dar certo e nem sequer duvido que possa ser melhor que o antigo. Se há amor, vale a pena tentar. Talvez ela me escreva e ficarei sabendo se resolveu viver essa nova experiência com seu marido. Talvez não mais escreva, mas seu e-mail nos mostrou como a traição é terrível, para quem recebe e também para quem pratica.
Duvido que uma pessoa que trai os sentimentos de outra, que sai para um novo relacionamento sem o devido respeito com sua ou seu parceiro, duvido que essa pessoa possa se sentir verdadeiramente em paz consigo mesma e com Deus. Esse homem voltou e pediu perdão; outros jamais voltarão, mas no fundo tenho certeza de que um dia se arrependerão, não de ter saído de uma relação em busca de viver um novo amor e, sim, da forma como o fizeram, através da traição.
Para todos nós, fica uma lição importante. Somos livres para terminar um relacionamento, porém, se vamos fazê-lo, que seja com hombridade, sem transigir a verdade, respeitando o direito à franqueza e à verdade que nossos parceiros merecem. Somente assim poderemos ser livres para viver o novo, de peito aberto e alma limpa.
Por Regina Racco que é shiatsuterapeuta e trabalha com a técnica de Pompoarismo para mulheres e homens desde 1993.
www.pompoarte.com.br
Comentários