Eu deveria estar feliz no dia de hoje! Mesmo porque descobri que meu número de leitores aumentou com a chegada, a Juiz de Fora, de um primo meu que morava em Brasília. Ele lê tudo que escrevo e não entende nada, mas, é um leitor a mais e isso é o que importa. Já somamos dois agora: Eu, porque escrevo; ele, por consideração. Se tiver mais algum leitor escondido por aí, avise-me para eu contabilizar. Com esse astronômico número de leitores, eu deveria ser o homem mais feliz do mundo. Masssss... Não querendo ser nostálgico e já sendo, sinceramente, cheguei à conclusão de que a frase “Eu era feliz e não sabia” se encaixa bem em minha vida e, com certeza, na vida de todos os brasileiros que já passaram dos trinta. Trinta? Pensando melhor, quem já passou dos vinte já anda repetindo esta frase frequentemente.

Claro que já existia violência nas ruas, mas, hoje em dia, a coisa está feia ao extremo. Os jornais dividiam o espaço com notícias mais distantes de nossos olhos.

A década de 80, período de tempo entre 1980 e 1989, foi o fim da idade industrial e o início da idade da informação. Foi quando aconteceu o “BUM” da internet e a ilusão dos grandes empresários em pensar que enriqueceriam da noite para o dia, investindo na grande rede.

Mas isso não foi só no Brasil, foi no mundo todo. As páginas das notícias internacionais eram as responsáveis pelo sucesso dos grandes jornais do País. Também, com tanta coisa acontecendo no mundo: A revolução iraniana, a guerra das Malvinas, a vitória sandinista na Nicarágua, a abertura econômica da União soviética, a ascensão do movimento Solidariedade na Polônia, a queda das ditaduras militares na América Latina, a queda do Muro de Berlim, a eleição de Ronald Reagan, nos EUA, para presidente em 1980, o governo de Margaret Thatcher no Reino Unido, o massacre na Praça da Paz Celestial, na China, e tantos outros acontecimentos de que não me lembro agora.

Foi também na década de 80 que boas coisas aconteceram no Brasil e os jornais eram vendidos porque anunciavam que estava nascendo o reinado da Xuxa, a “Rainha dos Baixinhos ou porque a Gretchen aparecia na capa do JB como a "Rainha do Bumbum", em razão do jeito como dançava, virando-se de costas para as câmeras de televisão e para a plateia, tornando-se a pioneira da Bunda Music. Agenor de Miranda Araújo Neto, conhecido como Cazuza, cantava em suas músicas o que todo jovem queria dizer e não sabia como. Sai João Baptista Figueiredo, entra Tancredo Neves, o primeiro civil a ser eleito desde 1960. José Sarney assumiu em seu lugar, por causa de sua (estranha) morte. Mas, foi uma vitória para o povo brasileiro, com o fim do bipartidarismo, a queda da ditadura militar, o movimento “Diretas Já” e a transição para a democracia. E os jornais vendiam como nunca!

Foi na década de 80 que o brasileiro, morador dos grandes centros, ainda podia caminhar à noite, pelas ruas, com um pouco de tranquilidade. Ainda não tinha começado a época em que os jornais estampavam em suas capas as balas perdidas, as crianças sendo arrastadas pelas ruas, os sequestros diários, os escândalos políticos e os assassinatos cada vez mais frequentes. Os direitos humanos ainda eram um pouco mais respeitados. O ex-ministro da Saúde, José Gomes Temporão, e o ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, ainda não tinham declarado serem a favor da legalização do aborto. O cantor e ex-vereador da cidade de São Paulo, Agnaldo Timóteo ainda não tinha sido eleito por um bando de imbecis, para dar em troca seu pleno apoio ao turismo sexual no Brasil, dizendo que uma menina de 15 anos sabe o que está fazendo e que os gringos têm bom gosto.

Meu Deus. A que ponto chegamos!

Lya Luft escreveu, em uma de suas colunas, que sente medo de, num futuro muito próximo, ver as pessoas vivendo como ratos, organizados em seus lares com minis shoppings. Comida pré-pronta, diversão cibernética, amizades virtuais e do lado de fora de nossas vidraças um trágico cenário de cruzes, prostituição e balas perdidas. Não posso negar que penso como ela e, a cada dia que passa, a cada jornal que leio, vejo ecoando em minha mente a mesma frase de sempre: “Eu era feliz e não sabia! ”

Antonio de Padua (Padinha) - Fotógrafo, diretor do site O Click e colunista nas horas vagas!