Voar é para amantes e, talvez, os pássaros...
Por Regina Racco
Mesmo com toda a liberdade desses novos tempos ainda temos muito a aprender. Foram muitos anos de cobranças. Falhar era um crime inafiançável. O medo de falhar - fosse no que fosse - se tornava maior, dependendo de como fomos criados. Na maioria das vezes, trazemos esse temor da infância. Somos levados por uma educação falha a achar que só a vitória importa.
Aqui, no Brasil, então, levamos isso tão ao “pé da letra” que ser o vice, tirar um segundo lugar, estar entre os melhores, de forma alguma é visto como vitória. Não se diz: meu time é o vice-campeão da Taça X. Falamos pesarosos: meu time perdeu! Você já viu alguém comemorar o 97º lugar em algum concurso? Mesmo se esse honroso lugar tenha sido conquistado entre 80 mil inscritos? Difícil, não?
E ser vice, então? Existe até mesmo uma brincadeira histórica com os vice-presidentes. Dizemos sempre que “o vice não fala”. Com essa convicção, errada, mas ainda assim convicção, crescemos e nos preparamos para ganhar. Logo, esbarramos na impossibilidade. Não iremos ganhar sempre e, seguindo esse raciocínio, quando não estamos em vantagem, estamos em desvantagem. Instala-se a ansiedade e a frustração.
Assim é também em nossa vida sexual. Não é por acaso que a frase “isso nunca me aconteceu antes” entrou para o anedotário nacional. Mas a onde está escrito que todos os encontros amorosos terão, obrigatoriamente, que terminar em orgasmos retumbantes? E onde está escrito que o prazer somente é alcançado através de um gozo espetacular?
Sou da época em que homem pensava que o orgasmo e a ejaculação eram a mesma coisa. Hoje já se sabe que um homem disposto a se conhecer e treinar o seu prazer consegue ter mais de um orgasmo na relação, sem a ejaculação, que ele controla e decide o momento de ter. Sou da época em que as mulheres teriam que ter orgasmos imensuráveis e, preferencialmente, bem explícitos, sob pena de seu parceiro a achar frígida. Assim, a mulher passou a fingir. Fácil, prático e quase indolor.
Quase indolor, porque fingir para o outro é fácil, difícil é fingir para si própria. Hoje mulheres à frente de seu tempo descobrem que podem controlar o seu prazer, ampliá-lo e viver plenamente. Estamos vivendo um novo tempo e, nesse novo tempo, podemos ate mesmo nos permitir falhar. E, melhor, entender que um momento especial de encontro entre um casal deve ser vivido principalmente com tranqüilidade e relaxamento.
Um novo tempo se abre aos nossos olhos. Tempo de liberdade e conquistas. Tempo de se viver o novo e transformar em normal o inusitado. O encontro de um casal desse novo tempo pode e deve ser a cada dia diferente. Casais, antes preocupados e ansiosos, tentando reproduzir a cada encontro um mesmo modelo, descobrem que o que realmente importa segue exatamente ao oposto das fórmulas prontas.
Passear de mãos dadas, dormir nus e agarradinhos, beijos, carícias, sexo oral, anal ou simplesmente uns “amassos” podem ser deliciosos se praticados com tranqüilidade. Com ou sem orgasmo. Importando apenas cada minuto e a delícia de estarem juntos. Longas transas no estilo tantra, em que o casal se relaciona por horas sem que o homem ejacule ou uma rapidinha, em pé, no box, durante um banho juntos...
Sentar-se em frente um ao outro e passar alguns minutos apenas se admirando pode ter um efeito fantástico na libido. Ou, quem sabe, um telefonema à tarde com segundas, terceiras e quartas intenções? E, se no meio da transa bater o sono, durmam. O orgasmo, como o fim e objetivo do bom sexo, se torna um pesadelo quando cobrado por um dos parceiros. Liberdade para sentir, liberdade para entender que o prazer não está aprisionado em um formato padrão...
Vivam tendo em vista que voar é para os amantes inteligentes e, eventualmente, para alguns pássaros...
Por Regina Racco que é shiatsuterapeuta e trabalha com a técnica de Pompoarismo para mulheres e homens desde 1993.
www.pompoarte.com.br
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