Por Regina Racco

Que papel desempenha esta mulher que aceita viver uma relação triangular, divide o seu amado, e não é bem vista com bons olhos pela sociedade?
É uma figura que ameaça e ao mesmo tempo pode garantir a estabilidade de um casamento muitas vezes acabado, mantido apenas pelas aparências. Garante que seu homem volte para sua mulher e sua família, satisfeito e de bem com a vida. A amante tem sempre uma pedra apontada para ela, e dificilmente é reconhecida como alguém que também ama e tem conflitos.

Olhando a realidade desta mulher, é muito interessante o que podemos constatar. Muitas vezes trata-se de uma pessoa livre, disponível para outros relacionamentos, mas que movida por promessas e expectativas, espera pacientemente por breves momentos roubados, escondidos, sempre escolhidos e determinados pelo seu parceiro indisponível. Este por sua vez, também revirado por seus conflitos, promete o que não pode ou não consegue cumprir e arrasta esta relação sem a qual não pode viver, até porque sem ela não suportaria seu casamento.

Esta situação fica sempre mal resolvida porque o homem resiste em tomar uma decisão, coloca sempre a família e os filhos como vítimas, utilizando desta justificativa muitas vezes ilusória, porque na realidade para ele a escolha também implica em conflitos, perdas e incertezas. Na verdade ele se esconde por trás destes motivos para não decidir, porque também é muito difícil para ele.

Enquanto isto, para a amante, fica uma parcela quase insuportável de culpa pela simples ameaça de ser potencialmente uma "destruidora de lares". A responsabilidade pela formação do triângulo fica sendo sempre dela, que "roubou" aquele marido (que é também uma vítima). Isto acontece porque a grande maioria das mulheres não foi educada para situações imprevisíveis ou fora do esperado, especialmente quando estas situações abalam seus valores e os determinados pela nossa sociedade.

O casamento ainda é uma expectativa feminina muito freqüente e um grande valor, mesmo que renovado em sua estrutura e adaptado às exigências da vida moderna. E o sonho de muitas amantes também é uma união estável, ou mesmo o casamento.

Ser amante não é um papel facilmente escolhido por uma mulher. Ocorre por conta de um encontro em que ela chegou atrasada ou mesmo por uma paixão incontrolável e que uma vez vivida não deixou rastros para se encontrar o caminho de volta. Quando vai ver, já aconteceu. Ela é a outra.

Numa vivência em que partilha momentos de cumplicidade, troca e intimidade com o seu parceiro fica para ela o prazer e a emoção maior, e em seguida a angústia, o vazio, a espera interminável, a indefinição e o preconceito.

Por Regina Racco que é shiatsuterapeuta e trabalha com a técnica de Pompoarismo para mulheres e homens desde 1993.
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