Por Sergio Garbati Gorenstin

Ao final de uma palestra onde eu estava falando da necessidade de se entender as brigas de casal como uma vontade de melhorar e que os casais que não brigavam corriam o perigo de esfriarem até se extinguirem completamente, uma mulher se aproximou e agradeceu elogiando minha palestra e afirmando que viveu anos de um silencio frio e logo em seguida perguntei completando: nem a alegria de uma briga houve?

Ela sorriu e disse: é isso mesmo!

As brigas em casal podem mostrar muitas coisas, mas quase sempre mostram o interesse um pelo outro.

Quando chegam casais no meu consultório, que afirmam não aquentarem mais brigar, eu entendo isso como um sinal de esperança. Óbvio que é preciso ter limites nas brigas. A agressão física não deve ser tolerada, a menos que algum estranho acordo aja, mas de qualquer forma considero que não deva ser aceita. Mas talvez deva ser interessante entender a briga como uma forma de brincar. É isso aí.

A brincadeira para as crianças é uma forma usada para entender e experimentar o mundo e suas relações. É algo muito sério para as crianças e deve ser visto como muito importante pelos pais e educadores. Resolvem diversos problemas de entendimento do mundo através da encenação de mocinhos e bandidos. Para sermos verdadeiros é possível que os adultos também não aquentariam a vida sem seus brinquedos e jogos.

Ok! Mas como brigar brincando com meu parceiro?

Durante a briga leve a sério a contenda e respeite seu adversário. (as crianças fazem dessa maneira mesmo quando ridicularizam o oponente).

Nunca criticar a pessoa e sim seus atos.

Nunca afirmar algo definitivo no calor de uma briga.

Acreditar que poderá ser perdoado se também perdoar.

Saber se afastar.

Se as brigas sempre se repetem sobre o mesmo tema, será preciso olhar para trás e olhar o que no nosso passado está tão doloroso que sempre retorna e depois olhar mais para trás, para sua família de origem (seus pais, avós etc.) e tentar ver o que se está repetindo da família de que se veio, só que agora com outro cenário.

Ah! Quer dizer que as brigas podem ser boas para a organização do casal, mas se elas não estiverem contaminadas por assuntos do passado das famílias de origem dos parceiros?

É e não é. O segredo de um casamento é preveni-lo de tudo que possa esfriar-lo. Portanto as brigas podem ser um bom sinal de alarme também para as intoxicações do passado, seja do casal ou intoxicações provenientes da família de origem.

Mas o que são essas intoxicações provenientes da família de origem que podem atrapalhar um casamento?

Isso é o mais importante de entender: o fato é que projetamos quase sempre sem perceber carências atuais e carências passadas como se fossem a mesma coisa. Misturamos nossos problemas atuais como problemas que trazemos de nossas famílias de origem. Quando essa mistura é intensa é bem provável que a crise se instale no casal. Esposa e mãe se confundem e se mesclam, bem como uma série de membros das duas famílias, a atual e a de origem se confundem gerando angustia ou outros sintomas mais graves

Que tragédia!

De novo, é e não é. O casamento e as brigas de casal vão nos permitir a ver essas confusões que se instauraram dentro de nós. Intoxicando e minando nossa alegria de viver e permitirá que tentemos reorganizar nossos sentimentos com tudo o que vivemos até aquele momento na vida.

Portanto, briguem amorosamente.

Em outras palavras quer dizer, briguem, mas cresçam com as brigas.