Por Natália Lott

Semana passada falei de gentileza e de gestos simples, mas que fazem a vida das pessoas muito melhor. Assim que terminei e enviei o texto para o Padinha, fui ler as notícias do dia. Fiquei surpresa com o que vi: médicas brasileiras, que foram ao aeroporto protestar contra a vinda de médicos estrangeiros, vaiando um profissional cubano. Não sou médica, mas como brasileira me senti ofendida com tamanha falta de inteligência daquelas vaias.

Não vou entrar aqui em questões políticas nem profissionais: se os médicos que estão vindo para o Brasil terão capacidade técnico-científicas de exercer a profissão, se terão condições e equipamentos para fazerem um bom trabalho, se devem ou não fazer prova, tudo isso é papel do Conselho de Medicina questionar e julgar. (Conselho profissional é igual calo: cada um que tem o seu sabe bem onde dói. O meu, por exemplo, dói pra caramba, rs. Se cada profissional ficar “no seu quadrado”, ninguém se metendo na profissão do outro, seremos todos felizes para sempre). Só digo uma coisa: se existe uma Lei de Diretrizes e Bases (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm), que regulamenta o ensino em qualquer nível, talvez ela devesse ser seguida. Mas se os estrangeiros estão vindo para cá através de um programa do Governo, essa vinda é legal, mesmo que não siga a lei principal. Enfim, o que quero analisar mesmo é a hospitalidade e a hostilidade dos brasileiros.

Há pouco mais de um mês tivemos um lindo exemplo de hospitalidade. A Jornada Mundial da Juventude, que aconteceu no Rio de Janeiro, mostrou para o mundo como o brasileiro é um povo incrível: mesmo com tantas adversidades, improvisos, imprevistos, somos capazes de resolver e contornar os problemas com um sorriso no rosto e receber as visitas sempre com carinho. Os milhões de peregrinos que passaram semanas aqui voltaram para casa encantados, não só com o Papa, mas também com a gente. O “Sejam Bem Vindos” não precisava ser traduzido, era sentido por todos. Ah! só para esclarecer, eu não fui pra jornada (e me arrependo, viu?): vi tudo pela televisão (acho que nunca minha TV ficou tanto tempo ligada nas redes católicas, hahaha) e acompanhei pelas redes sociais também. Mesmo assim, era perceptível o clima de bom anfitrião, de povo amigo. Achei que isso ia durar pra sempre, que seria a nova imagem do Brasil no mundo, substituindo aquela de país do futebol e do carnaval.

Durou nem dois meses... Quebrou-se o encanto, ficou feio pra burro. Aquele povo tão legal quando o estrangeiro é turista, não é mais legal quando o estrangeiro é colega? Como assim? Acho justo e digno protestarem, desde que seja com inteligência e que produza algum resultado. Ganharam repercussão? Certamente. Todos os veículos de comunicação noticiaram e estamparam a foto das médicas vaiando o rapaz cubano. Surtiu algum efeito gritar no ouvido dele? Duvido muito; afinal, o que ele, coitado, poderia fazer frente a tanta hostilidade?

2014 está aí (e não estou falando da Copa). Quem sabe se a gente não gritar nos ouvidos certos e lavar nossas roupas nos nossos próprios tanques, a coisa toda não muda?

PS: Faltou a dica musical, né? Acho que a música Juventude Transviada, de Luis Melodia, combina bem com esse texto de hoje. Veja aqui, a versão com ele e com a Cássia Eller: http://youtu.be/2zg_XEwfU68