Por Natália Lott

Quando comecei a escrever aqui no O Click me propus duas coisas: não escrever sobre nenhum acontecimento específico da atualidade (e que se fossem lidas anos depois ficariam sem sentido) e não falar nem de religiões específicas, nem de política, nem de futebol. ( do meu Vascão, porque é o maior, afinal é o Gigante da Colina, hahaha). Estava com o texto dessa semana prontinho, mas um problema de ordem maior (leia-se: o computador fez birra e travou!) me impediu de mandar o artigo. , vendo na TV as notícias do dia e as reclamações dos amigos sobre o re-julgamento do mensalão, não resisti: escrevi outro (este) texto.

Antes de tudo, quero esclarecer: não conheço nada de leis, muito menos da dinâmica do judiciário. Estou falando aqui como brasileira, espectadora e leiga absoluta, então, se sair alguma abobrinha é apenas o entendimento simplificado e resumido que tenho. E aí, se você for da área jurídica, usa o espaço para comentários que O Click oferece ali embaixo e me corrige e explica direitinho? Eu aproveito pra aprender mais uma coisa nova (e também saber que você leu o texto, hehehe).

Bom, situando o fato: o ministro Celso de Mello foi o responsável pelo voto de desempate no recurso que determinava um novo julgamento dos réus do mensalão. Numa votação binária (com duas opções: sim ou não, par ou ímpar, zerinho ou um), ele demorou duas horas para justificar seu voto a favor do re-julgamento. Eu entendo perfeitamente a indignação de muitos com o voto dele. Também senti o mesmo e fico triste ao pensar que um sujeito comete um crime contra o País e tem um monte de saídas e recursos possíveis na lei para “escapar” da prisão (milhares de aspas aqui, por favor. Eles não estão fugindo de prisão de uma maneira ilegal, mas por brechas na legislação, conseguem fazer isso de cabeça erguida, com cara de pau e muita arrogância). Posso até ouvir Renato Russo cantando, mais atual que nunca, “que país é esse?” (ouça aqui: http://youtu.be/CqttYsSYA3k).

Dias e dias de suspense, manchetes sensacionalistas nos jornais, chamadas na TV como se fosse o capitulo final da novela (e até parece uma novela, só que sem o “felizes para sempre”). O fato é que todo mundo ficou esperando uma reviravolta nessa história, ansioso pelo mocinho vencer o bandido. Ah, vá! Tudo isso foi só para ter mais audiência! O resultado já estava dado, o próprio ministro já tinha dito que não mudaria seu voto anterior! (Na primeira votação do mensalão, se não me engano, ele foi a favor dos réus).

Brasileiro gosta de ter esperanças, né? Quer que tudo tenha um final feliz e justo, mas se puder dar um jeitinho pra se dar bem, que mal tem? É o próprio Macunaíma, personagem do livro de Mario de Andrade que reúne as piores características do povo brasileiro: preguiçoso, sem caráter, mentiroso, traidor. (Curioso: adjetivos recorrentes de muitos de nossos representantes de Brasília, hã?). E mesmo com tantas características ruins, Macunaíma mantém sua esperança até a morte. Mas baixe o livro aqui para ler, é mais interessante: http://www.techtudo.com.br/tudo-sobre/s/macunaima-mario-de-andrade.html (Não tenha preguiça, como Macunaíma. Mas se a ansiedade para conhecer a história for muito grande, tem um resuminho aqui: http://pt.wikipedia.org/wiki/Macunaíma).

Não concordo com o resultado dessa votação morosa (muito pelo contrário!), mas acho que o ministro Celso de Mello foi bastante coerente na sua decisão, que está dentro da lei e tem que ser respeitada, afinal ainda vivemos numa democracia (pelo menos, oficialmente). Não sei o que está por trás de sua posição nem qual é a lógica que ele segue (vai saber o que se passa na cabeça dele, né?), mas ficou firme em sua convicção (seja lá qual for), manteve o voto de acordo com o da primeira votação como havia anunciado, mesmo sabendo que a crítica ia crucificá-lo. E nem se deixou deslumbrar pela vaidade momentânea de ser o herói do Brasil, título que fatalmente receberia se mudasse o seu voto.

E agora a culpa é só dele né? Não é mais dos outros cinco ministros que também votaram a favor... Não é dos réus que estão sendo julgados... Não é de quem faz as leis cheias de buracos... Aliás, quem é que faz essas leis, hein? Pois é...

Macunaíma, conversa com o Renato aí no céu; o que tenho visto por aqui na terrinha só está me dando preguiça...

Natália Lott é arquiteta, publicitária e light designer por formação, fotógrafa por vocação e escritora por intuição. 

Pesquisa a luz, as cores e seus efeitos na arquitetura, na comunicação e na fotografia; trabalha com fotografia institucional e conceitual.

Contato: about.me/natalialott