Precisamos abrir os olhos!
Sempre em época de eleições, fico atento não às propagandas eleitorais exibidas na TV aberta, o que é um verdadeiro programa de comédia de dar inveja aos grandes nomes do que se pode chamar de cômico no País, mas sim aos amontoados de gente pelas ruas comentando e declarando o que deveria ser secreto: O Voto! As justificativas são de fazer chorar qualquer cidadão que tenha o mínimo de consciência política.
Ouço coisas absurdas, sinto tristeza em ouvir uma pessoa dizer que fulano é um ótimo candidato porque asfaltou sua rua, ou porque fez o saneamento básico de seu bairro e o golpe de misericórdia vem no final do comentário, quando o infeliz arremata: “Se todo mundo rouba, pelo menos vou votar em um que rouba, mas faz alguma coisa!” É o que chamo de ignorância política egoísta. Falta aos brasileiros não só a cultura, mas o conhecimento do real valor de um voto!
Em uma recente pesquisa, foi comprovado que menos de 12% da população entende as mudanças e a liberdade democrática que nos foi oferecido com a constituição de 1988. Caem sobre terra os esforços de Ulisses Guimarães, de nada serviu a luta dos verdadeiros representantes do povo, vencendo as emendas militaristas do general sem fardas José Sarney.
O que faz os ignorantes políticos com a liberdade política de uma constituição que a meu ver é moderna demais para a cultura do País? Não a merecemos por não estarmos prontos para ela, essa é minha opinião!
Vivemos desde 1964 sob o regime da ditadura militar e desde 1967, subjugados às alterações decorrentes dos Atos Institucionais, sob uma constituição imposta pelo governo. Nossas garantias individuais e sociais eram diminuídas e ignoradas pelo sistema de exceção, pois assim, eram garantidos os interesses da ditadura.
A constituição de 1988 qualificou como crimes inafiançáveis, a tortura e as ações armadas contra o estado democrático e a ordem constitucional, criando assim dispositivos constitucionais para bloquear golpes de qualquer natureza. Com a nova constituição o direito maior do cidadão que vive em uma democracia foi conquistado: O direito de votar, de eleger Presidente da República, Governador de Estado, Prefeito, Deputado (Federal, Estadual e Distrital), Senador e Vereador. A nova Constituição também previu uma maior responsabilidade fiscal. Ela ainda ampliou os poderes do Congresso Nacional, tornando o Brasil um país mais democrático.
Pela primeira vez no Brasil, um índio pode entrar palácio do Planalto e defender seus direitos. Pela primeira vez o povo ganhou voz e retirou do governo um presidente que não respondia mais aos compromissos assumidos e desrespeitava a nação como um todo. A voz do povo ecoou e o Brasil mudou!
Mas e a liberdade, o que fazer com ela?
Vamos continuar elegendo cantores, radialistas, pastores, estilistas, astros da música sertaneja? Vamos continuar a entregar as rédeas de nosso poder, conquistado com tanto sacrifício a qualquer um que apareça na telinha global ou que tenha boa voz no rádio?
É duro, após tantos anos, fazer um balanço e notar que as promessas fundamentais foram descumpridas e as esperanças frustradas.
Estou convencido de que o País continua vulnerável e de que a verdadeira estabilidade precisa ser construída por meio de corajosas e cuidadosas mudanças que os responsáveis pelo atual modelo não querem ou não interessam fazer. Detesto o continuísmo, não reelejo, apenas assisto. Já pagamos e continuamos pagando caro por isao!
Não levanto bandeira de nenhum candidato, assim como não desmereço nenhum deles. Apenas penso que todos nós temos a obrigação de saber que em mais de 500 anos de Brasil, temos uma constituição nova, com pouco mais de 20 anos, que nos deu liberdade, força e poder de voto. Temos que respeitá-la, ter paciência e esperar que ela cresça e amadureça, assim como fazemos com nossos filhos. Temos de começar a eleger de verdade e parar de vez de brincar com a democracia. Temos que olhar para os lados, pensar coletivamente, analisar as condições e o envolvimento ideológico e político da pessoa a quem vamos entregar nosso voto, parar de atirar no escuro, de eleger o popular, o bonitinho, o famoso. A desonestidade existe a todos os níveis e está estampada em nossa cara. Não podemos mais fechar os olhos. Temos uma missão a cumprir e não podemos mais cometer os erros do passado.
Enquanto crimes como os que aconteceram em nosso País continuarem a ser considerados normais, teremos mais e mais motivos para abaixar a cabeça quando passarmos em algum mastro onde esteja estirado o verde e amarelo de nossa bandeira.
Por enquanto, analisando as eleições passadas, tenho que concordar com J.R. Guzzo quando disse: “O presidiário Fernandinho Beira-Mar deve lamentar amargamente, de sua cela na Penitenciaria Federal de Campo Grande, a decisão que tomou no passado sobre sua profissão. Se tivesse entrado para a política, hoje estaria com a vida que pediu a Deus”.
Antonio de Padua (Padinha) - Fotógrafo, diretor do site O Click e colunista nas horas vagas! :-)
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