Para a terceira idade
Por Claudia Nunes
Não tem jeito, um dia vamos envelhecer mesmo, assim como vamos morrer. Não adianta espernear. Adianta fazer um botox, ginástica, dieta, para se envelhecer com qualidade, senão o trem degringola, fica feia a coisa literalmente, e porque não dizer caída...
Hoje existem tratamentos para adiar e suavizar o tempo dos seres humanos, mas nunca vimos tanto o culto ao corpo, ter que parecer constantemente lindo é muita pressão para as pessoas. Claro que adoro as coisas artificiais nesta questão, sou mulherzinha quanto a isso, adoro plástica, chapinha, tinta para cabelo, cremes, lente de contato, roupa bonita, um bom livro, também faz parte, para o intelecto não é mesmo? Mas o que acontece e que me preocupa são as pessoas que odeiam tanto o envelhecer irremediável, que se afastam dos velhos. Não pensam que um dia vão estar nesta situação, e se afastam daquilo que detestam ver: o próprio futuro.
Outro dia ouvi um comentário da minha filha enquanto via Mulheres Apaixonadas (confesso que adoro ver novelas, e quanto mais brega mais gosto), que a Dóris estava completamente certa, aqueles avós eram um saco! Pronto pirei o cabeção! Meu Deus vou ser abandonada quando estiver velha, decadente, sem escutar direito, meio que doidinha de tanto ver coisa absurda, falando alto, sem minhas corridas matinais porque o reumatismo vai me impedir de ir...
Será que você também pensa assim, ou mascara que os velhos são uma lição, mas deixe-os com seus pensamentos sábios demais para a gente.
Ser velho não quer dizer que vamos ser sábios, mas tempo corrido na vida. A gente tenta entender as pessoas depressa demais. Sofro por isso. Ser velho é ser abandonado hoje em dia. Vemos tanta preocupação com as crianças, coitadas, sem ninguém que as proteja, mas e a terceira idade?
Às vezes me recordo da minha tenra juventude e odeio com força essa época e prefiro pensar que no futuro vou ser muito melhor, mesmo decadente fisicamente, pois ser jovem não priva o sofrimento da imaturidade, não apaga, com perdão da palavra, as cagadas que aprontamos, pois pensamos que sabemos tudo e vai dar certo no fim... Doce ilusão...
Espero sinceramente que as organizações não governamentais, as políticas públicas ou a quem interessar possa que este quadro seja modificado, que os velhos sejam respeitados, não idolatrados, só respeitados, ouvidos, porque são gente como a gente, são nossos pais, nossos avós e amigos.
De agora em diante quando ver um velhinho na fila do banco, atravessando a rua, entrando na porta da frente de um ônibus ou em casa, pense com carinho, o quanto ele viveu até agora, quantas dores, quantos sorrisos, e admire, não repudie, pois amanhã será você, e ai? O que vai querer para si, amor, piedade, ou dias melhores?
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