Se alguém aí estiver procurando um livro leve, engraçado e com um pouco de aventura, com certeza, encontrará isso neste pequeno livro do francês Alphonse Daudet. Publicado em 1872, Tartarin de Tarascon tem um dos personagens mais divertidos da literatura, pois ele é uma mistura de Dom Quixote de La Mancha com Sancho Pança e sofre o tempo todo com essa dualidade, essa briga entre o Tartarin que quer explorar o mundo e caçar leões e o Tartarin corpulento que quer ficar em sua poltrona, com seu chocolate quente.

A comunidade de Tarascon, no Sul da França, tem costumes bem peculiares, com suas cantigas tradicionais e sua paixão pela caça. O problema é que não há nada para caçar na cidade! Então, a caça, para eles, é na verdade um bom almoço no campo, coroado com tiros nas próprias boinas. Aquele que tem a boina mais destruída é o vencedor, e esse vencedor sempre é ... Tartarin. Sua fama de herói é corroborada pela grande quantidade de armas, expostas em sua casa, e seus livros sobre guerra, mas, a verdade é que Tartarin nunca saiu da cidade e seus inimigos são apenas imaginários, por quem ele está sempre esperando a cada esquina. Ele é um contador de histórias, histórias que nunca viveu e sim que leu. São histórias de outros que acabaram tornando-se suas, à medida que as narra continuamente, de forma tão dramática. “O homem do Sul não mente; ele se engana. Não diz a verdade todo o tempo, mas acredita que sim… Suas mentiras não são bem mentiras, são uma espécie de miragem…”

Um dia, um circo chega à cidade e Tartarin se depara frente a frente com um leão. A partir desse momento, ele encontra uma missão de vida: irá para a África caçar leões! Depois de muita relutância de seu lado Sancho e da pressão dos tarasconeses, Tartarin segue para a Argélia com toda a sua parafernália de caçador, deparando-se com muitas aventuras, mas não exatamente as que esperava viver.

O narrador dessa história – um observador de todos os passos do herói – é a verdadeira fonte do humor do livro, com suas tiradas irônicas e retratos cômicos de cada trapalhada de Tartarin. Além disso, o autor aproveita para alfinetar a França em relação à colonização da Argélia e para destruir as ilusões do estrangeiro que pensa a África em seus estereótipos de lugar ermo, com habitantes selvagens; um erro que ele mesmo cometeu, quando visitou a Argélia, ainda jovem. Mas as ilusões e a ingenuidade de Tartarin causam-nos mais riso que pena, justamente porque ele precisa aprender, precisa tirar o véu da vaidade extrema e ver além do seu pequeno universo tarasconês, que ele leva para onde vai. E assim, numa narrativa deliciosa, o autor acaba por brindar-nos com uma obra de humor, mas que também pode fazer-nos refletir sobre algumas de nossas posturas diante da vida, quando conta as "loucas e jocosas" aventuras de Tartarin. Por sua leveza e humor, esta é uma leitura que aconselho!


Daniel Weitzel Simões
Professor de Língua Portuguesa, pós-graduado em "Leitura, Compreensão e Interpretação de Textos" e Mestre em Linguística
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