Os tempos estranhos e retrógrados, de um pseudo e falso moralismo, que nosso país tem vivido, trazido de volta por setores pretensamente conservadores, fez-nos lembrar deste livro, escrito no século 19 que, quando de seu lançamento, em 1888, causou um grande escândalo na sociedade de então, por ser um romance de caráter naturalista, abordando temas como divórcio, amor livre e o novo papel da mulher na sociedade, algo até então era ignorado na literatura.

Naquela época, muitos jovens foram proibidos de ler a obra e só conseguiam lê-lo, em um exemplar apenas escondido, já que, apesar do alvoroço pudico, ele foi, ao mesmo tempo, um enorme sucesso. O que mais chocou a hipócrita sociedade da época (semelhante à onda de conservadorismo que tem tomado o país hoje) foi ele abordar temas como o desejo sexual, perversões, NUDEZ e sexo.

A sua escrita e ficção não são das melhores ou das mais complexas, mas, “A Carne” chamou atenção, mesmo, pelo debate que ele iniciou na época, mostrando a mulher como uma pessoa independente.

A obra conta a história de Lenita e Manuel, que tiveram uma ardente paixão. Lenita era uma jovem, criada apenas por seu pai, já que sua mãe morrera no seu nascimento. O pai lhe dera uma educação acima da média e ela cresceu uma jovem inteligente e com muita vida. Aos 22 anos, o pai de Lenita morreu e ela ficou extremamente abalada, com a saúde frágil e sensível. Decidiu então mudar de ares, indo morar no interior de São Paulo, mais precisamente na fazenda do Coronel Barbosa, velho amigo da família e homem que havia criado seu pai.

Na fazenda, Lenira conhece o filho do Coronel, o engenheiro Manuel Barbosa, um homem já maduro, que conhecera as coisas boas da vida, mas que, agora, ficava em seu quarto lendo e estudando e depois partia para longas viagens. Manuel morara, durante 10 anos na Europa, onde se casou com uma francesa e de quem se divorciara, há pouco tempo. Lenita e Manuel iniciaram uma amizade que, aos poucos, evoluiu para uma grande paixão. No início, ambos se repelem, mas, depois, acabam por entregar ao forte desejo da carne.

O desfecho do livro é trágico, pois, certo dia, Lenita encontra cartas de outras mulheres que Manuel guardou e sente-se traída e abandonada, decidindo partir da fazenda, mesmo estando grávida de três meses. Ela casa-se com outro homem e Manuel, inconformado com a traição, suicida.

No livro, o autor tenta mostrar a contradição entre os desejos da carne e os desejos da mente, tão comuns a quase todos nós e, por isso, podemos afirmar que ele é, sem a menor sombra de dúvidas, muito atual e, por isso, indicamos a sua leitura para quem ainda não o fez, está bem?

Daniel Weitzel Simões
Professor de Língua Portuguesa, pós-graduado em "Leitura, Compreensão e Interpretação de Textos" e Mestre em Linguística
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