O que empatia tem a ver com preconceito? Tudo!
Vira e mexe, determinadas palavras parecem sair do dicionário, passando a fazer parte do nosso cotidiano. Nos últimos dias, por causa de um vídeo “vazado” do jornalista da Rede Globo de Televisão, em que ele foi apanhado praticando “ato de racismo” declarado, trazendo de volta o “Fla x Flu” reinante na sociedade brasileira, desde o mais recente “atrito” político do país, que o divide entre “coxinhas x petralhas”. Bem, mas o que isso tem a ver com EMPATIA?
Muito se fala sobre a palavra empatia, mas, estaria esta atitude presente no seu dia a dia? Aliás, qual é o significado dela? Segundo os dicionários, ocorre empatia “quando nos colocamos no lugar do outro ou até mesmo vivemos a realidade alheia, passando a entender melhor as situações adversas”. Assim sendo, a fim de “evitarmos” os “Fla x Flus” diários, a prática da empatia deveria ser uma constante em nossas vidas. Mas, a verdade é que não é tão fácil assim!!! Por isso, reflitamos sobre, está bem?
Uma das melhores consequências dessa reflexão é o repensarmos ideias que temos, até mesmo aquelas que já consideramos evoluídas e desconstruídas dentro de nós e “vermos” se somos empáticos.. ou não!. Determinadas práticas nos permite compreender o outro, ter uma nova visão, fazer descobertas e ultrapassar os limites onde os nossos pensamentos são barrados e constroem ali, sem que percebamos, barreiras que nos impedem de ver o outro lado.
Mas por que esse “papo de aranha” (ainda se usa esse termo? Não? Ah, então passemos a reutilizá-lo, está bem?) agora, hein? Para nos fazer colocar a mão na consciência, depois de lermos a polêmica sobre a recente questão do racismo praticado pelo jornalista Willian Waack, cujo vídeo tem tomado conta da timeline de muita gente, fazendo aparecerem “defensores” e “acusadores” do comportamento daquela figura pública e que pode ser, sem que o percebamos, o nosso próprio comportamento.
Como forma de colaborar nessa reflexão, trazemos um depoimento pessoal, pois, recentemente, descobri-me preconceituoso, embora sempre me colocasse contra qualquer tipo de preconceito. Pensando sobre o comportamento que exporei a seguir, questionei-me: “Por que eu, que me acho uma pessoa ‘antenada’ e defendo tanto a igualdade de gêneros, de cor, de religião, que tenho amigos gays, nordestinos, sudestinos, espíritas, católicos, evangélicos, jovens, velhos, com dinheiro e sem, coxinhas e petralhas (ufa, são tantos rótulos, não é mesmo?) estou aqui fazendo meu “mea culpa” por não ser tão “empático” como pensava? Vejamos...
Nos últimos meses, minha área de trabalho – como muitas no país – está muito ruim e eu perdi um dos meus “empregos”, pois o Preparatório para Concursos onde lecionava, “fechou temporariamente” por falta de concursos públicos, estando eu, há quatro meses, sem conseguir outro trabalho que substituísse o perdido. Mas, depois desses meses me enterrando num sofá, perdendo tempo, vida e dinheiro, surgiu a oportunidade de, nas horas vagas do outro trabalho que ainda temos (felizmente!), conseguimos junto a uma amiga, a possibilidade de ajudá-la, em sua loja, atendendo clientes. Quatro vezes por semana, no período da tarde, passamos a ter esse novo trabalho remunerado. Essa é uma boa forma de ocupar a cabeça, sair de casa e ter algum dinheiro, não é mesmo? Foi aí que veio o primeiro julgamento: Eu, balconista? Professor, “falante” de outros idiomas, currículo com “pós-graduaçao e mestrado”, trabalhando de touquinha na cabeça servindo pessoas? Foi difícil tomar essa decisão, mas aceitei, pois, estou precisando.
Dias depois, limpando uma das mesas, ouvi dois clientes conversando: “Coloco acento em ‘tem’? Mudou com a nova ortografia?” “Não sei. Não entendo.” E eu ali me remoendo para dizer “eu sei, eu sei!!! Eu sou professor de Português!!!”. Mas, eu era só um “atendente” e eles não iriam acreditar que eu sabia. Depois, a barreira seguinte: “e se conhecidos e colegas antigos entrarem na loja e me virem nesta função? O que eles vão pensar? Eles não sabem como cheguei até aqui, que a dona é minha amiga, vão pensar que não dei certo na vida.”
Dá para entender como isso é errado??? Era com essa inferioridade que eu via os outros atendentes, balconistas e nunca tinha percebido! Estava eu sentindo vergonha por ter um trabalho honesto, justo, que traz alegria para as pessoas, que auxilia os outros? Eu deveria é ter vergonha de mim, por pensar assim, por tanta falta de humildade e ... empatia.
Por um preconceito idiota eu iria perder a chance de conhecer tanta gente nova, como tem acontecido nas últimas três semanas, de ouvir tantas histórias de vida, como sempre gostei de fazer, de aprender um novo trabalho, de ajudar uma amiga, de ter dinheiro para comprar uma nova bicicleta (a minha fora roubada, recentemente, no bicicletário de um supermercado), para ir ao casamento de uma amiga, em outra cidade, enfim, de viver um pouco melhor com aquela renda extra? Em tão pouco tempo, este trabalho que eu achava tão inferior já me ajudou a estar mais feliz, disposto, a ter novas ideias, entender como uma pequena empresa funciona e a me interessar por aprender mais.
Como dizia meu avô: “A vida não é como a gente quer, é como ela se apresenta!” Então, estou aqui aceitando com muito amor e gratidão o que me foi apresentado, aceitando novas formas de crescer e evoluir com, por enquanto, um preconceito a menos. Hoje, estou aqui, professor, “escritor” de blogues, tradutor, revisor de TCC’s e ... como atendente, em um ateliê de doces. E, enquanto nada aparecer na minha área, pois estamos em fim de ano, época da “entressafra” para professores, o que mais precisar, a gente aprende a fazer também!
E, modéstia à parte, eu até acho que fiquei bem “bonitinho” de touquinha! Hehehehehehe! Um viva à empatia e abaixo o preconceito!!!!!!
Daniel Weitzel Simões
Professor de Língua Portuguesa, pós-graduado em "Leitura, Compreensão e Interpretação de Textos" e Mestre em Linguística
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