Precisamos conversar
Por Regina Valladares
Falar sobre o relacionamento é um eterno impasse entre homens e mulheres porque os dois enxergam (e sentem) a vida e os laços afetivos de maneiras diferentes. Enquanto eles são educados para agir, trabalhar, ganhar ( o dinheiro), consertar (o carro), trocar (a lâmpada), nós nos acostumamos a lidar e a falar sobre nossas emoções. E mesmo atoladas no trabalho, somos capazes de encontrar um tempinho para pensar nelas. "O homem é criado para encontrar respostas rápidas e seguras, resolver os problemas", diz o psicoterapeuta Eduardo Ferreira Santos. "E a mulher é educada para ser sensível." Por isso fica tão difícil o diálogo. Mas não precisa ser assim para sempre. Uma ajustadinha aqui e outra ali e a gente se entende com eles. Como? Nós ensinamos.
A diferença de expectativas de cada sexo no início de um relacionamento tem a ver com esse desencontro. Eu, você, nossas mães e amigas geralmente entramos em uma relação pensando em construir uma união duradoura, namorar, casar, ter filhos. Por isso estamos sempre querendo fazer dar certo, conversar, arrumar as pontas.
Os homens são mais diretos. Só precisam achar uma mulher interessante, bonita ou sexy para começar a dizer palavras doces no ouvido dela. E não estão errados. Nós adoramos a confirmação pela fala, dizem os psicólogos. Mesmo que ele te mande um buquê de rosas por dia, você tem que ouvir "claro que eu te amo, benzinho". "Para a mulher, não adianta que ele prove o que sente, tem que dizer isso sempre", explica a psicoterapeuta Elisa Maria Parahyba Campos, do Departamento de Psicologia Clínica da Universidade de São Paulo. "E os homens acham isso uma chateação, são práticos demais."
Vamos às regras
A conclusão mais importante disso tudo é que nem sempre discutir a relação da maneira tradicional (sentando, parando, conversando) é o melhor caminho para resolver os problemas. Às vezes é necessário dançar conforme o ritmo dos colegas do sexo oposto. E isso não é fazer concessões demais. É usar a inteligência e virar o jogo a seu favor. Na verdade, a favor de vocês dois.
Regra 1:Resolva tudo na hora
A primeira regra é não transformar essas conversas em um evento, com hora e local marcados, nem dar um ar muito sério à coisa. Também não é bom ficar anunciando a conversa com antecedência. Se ele fez alguma coisa que a deixou chateada hoje, não espere até a semana que vem para falar. Vá direto ao assunto na primeira oportunidade que tiver. Quanto mais você demorar para resolver, mais vai alimentar o problema. Enquanto isso seu querido está com a cabeça fria e possivelmente nem vai lembrar mais quando você tocar no assunto uma semana depois. Essa tática só não vale se ele estiver irritado, se acabou de sair de uma reunião estressante ou se o time dele perdeu o campeonato. Existe um livro que reúne frases de taxistas de Nova York e que tem uma citação ótima a esse respeito. É mais ou menos assim: "Se seu homem estiver bravo, espere até que ele esteja tranqüilo (ou de bom humor). Nunca tente apagar o fogo usando gás". Sacou? Ficar acumulando mágoas e despejar tudo de uma vez em uma conversa também não dá certo. Em geral, homens odeiam desenterrar briguinhas do passado.
Regra 2: Seja objetiva
Quando você for falar, tenha argumentos concretos e diga o que você sente em vez de apontar os erros de seu amado. No lugar de falar que ele está distante ultimamente, diga que você está se sentindo sozinha, explique os motivos e dê exemplos. Ficar conversando sobre os rumos que os dois estão tomando e não tocar exatamente no ponto que incomoda não dá resultado. Simplifique. Nós, mulheres, temos uma maneira muito mais complexa de lidar com as emoções e, para eles, é tudo mais objetivo. Então, é bem mais fácil descermos um degrau nessa escala de subjetividade do que forçá-los a subir.
Regra 3: Não faça disso uma rotina
Falar sobre o relacionamento de vez em quando não tem nada de errado e até ajuda, mas fazer isso sempre pode abalar sua relação em vez de melhorá-la. "Isso cansa os homens, eles não têm paciência para esmiuçar a relação", diz o psicoterapeuta Luiz Cushnir, coordenador do Gender Group do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas. "E isso piora muito se essas conversas se resumem a cobranças."
Se for isso mesmo, ou seja, se conversar sobre vocês virou rotina e uma oportunidade para cobrar mudanças de comportamento do parceiro, talvez seja hora de olhar um pouco melhor para o homem que está do seu lado. Se você está cobrando muito, pode ser que ele não seja quem você imaginou e aí não tem discussão, debate, palestra ou seminário que dê jeito. "As mulheres ainda não entenderam que precisam parar de tentar mudar o outro, de adaptá-lo aos seus desejos", diz Elisa Maria. "É muito mais fácil escolher um homem que já tenha as qualidades que você imaginou do que tentar fazer o seu mudar."
Atitudes x palavras
O problema de tanta conversa é que enquanto ficamos pedindo que eles falem, falem, falem, deixamos de prestar atenção no que eles fazem. As atitudes, sim, são termômetros verdadeiros do que alguém realmente é e do que sente. Ninguém está dizendo que discutir a relação está errado, mas que o comportamento é que mostra quem ele é, se gosta de você mesmo, se vai ser um namorado legal etc. Se ele não for o homem certo, não é uma conversa que vai resolver. E, se ele for mesmo, nem vai ser necessário muito blablablá.
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