Por Lúcia Camargo

A mulher chega em casa no final da tarde, quando o marido está saindo para o trabalho. Ele volta de madrugada e a encontra dormindo. O tempo em que ambos estão acordados e podem conversar não passa de alguns minutos por dia. A rotina desse casal, descrita no conto A Aventura de Um Esposo e Uma Esposa, do escritor italiano Italo Calvino (1923-1985), é comum a muitos. Manter um bom relacionamento, com tão pouca convivência, é o desafio para aqueles que têm "fusos horários" trocados.

Se há paixão, tudo fica mais fácil, avalia a psicóloga Maria Rosa Jorge, de 41 anos. "Quando duas pessoas estão apaixonadas, conseguem desfrutar da relação até se vendo por apenas cinco minutos por dia", garante. "Essa é, no entanto, uma via de mão dupla: quem está amando muito intensamente deseja estar na presença do outro em tempo integral", pondera. "A situação ideal fica em um ponto equilibrado entre esses dois extremos."

Nice Dantas Diego, de 23 anos, gerente da banca de jornais, afirma que chegou a um meio-termo nessa questão. Casada há dois anos, trabalha das 14h às 22h, e seu marido das 6h às 15h. "Sobra pouco tempo para ficar junto, mas nós nos amamos muito e sabemos aproveitar as horas que temos para curtir um ao outro", declara.

Quem não pode se dedicar em tempo integral ao parceiro, deve deixar isso claro no início do namoro, recomenda a psicoterapeuta Maria Aznar Farias, de 43 anos. "Há pessoas que precisam de mais tempo sozinhas que outras", explica. Mas quando a rotina muda, também podem aparecer entraves. A empresária Daniela Campi, de 33 anos, perdeu o namorado três meses depois de abrir uma franquia de café 24 horas em São Paulo. "É muito difícil encontrar alguém que compartilhe o gosto pela noite, ou pelo menos entenda meus horários estranhos de trabalho."