Por Claudia Nunes

Sexta-feira, enfim depois de uma longa e dura semana, sobrevivo às atribulações do dia a dia. Relaxo, são uma hora e pouco, sono... Durmo... De longe escuto um barulho persistente, incansável e vou identificando o som, real e alto. O telefone... Duas e meia, hiiiiii, não vou atender, aposto que é engano... Droga pode ser uma notícia ruim. Não sei se é loucura minha, mas acredito piamente que notícia de madrugada só pode ser ruim e tem de ser por telefone.

Para de repente, levanto olho na bina, minha mãe, ai meu Deus, ligo correndo e ela atende com uma voz calma e acho que estava até fazendo uma boquinha... Pergunto o que está acontecendo e ela plácida pergunta se está tudo bem, pergunto se ela sabe que horas é, ela claro, não tem idéia de que horas são. Ela pergunta se cheguei agora do trabalho, e eu tensa falo que horas são, se ela não tem noção de que fiquei explicitamente preocupada, e coisa e tal, mas ela pede desculpas, amanhã liga de novo. Fico chocada e dou boa noite. Volto para a cama e viro os olhos para lá e para cá, saco não vou mais dormir, como sempre, vou ter que encarar mais uma noite como as da semana. Levanto ligo o computador e redijo o fato.

Depois de algum tempo olhando para a tela, começo a pensar que o destino das pessoas é uma loucura, ou ela se torna uma grossa mal humorada, com a capa da franqueza, ou ela fica aérea, alheia às preocupações do ser humano. Vou à cozinha e abro a geladeira querendo na verdade tomar uma caixa de cerveja, ficar de porre e rir até morrer, morrer também não, dormir. Pode ser que tenha a sorte do meu pai quando envelhecer. A última vez que o vi, ele estava andando pela calçada, de terno e gravata, havia operado o joelho, porém bengala, nem pensar! Ele parecia um adolescente feliz, com uma vida inteira pela frente, mas nas costas 83 anos de vida. Fiquei parada olhando até que ele sumiu do meu campo visual. Mal sabia eu que uns poucos meses depois ele partiria. O telefonema com a notícia foi à tarde... Ironia...

Claudia Nunes